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Freiras, memória e ciência: a pesquisa que revolucionou o Alzheimer

Com cartas, exames e doações de cérebros, um grupo religioso colaborou com um dos estudos mais importantes sobre demência já realizados no mundo, tudo começou em 1986, quando o epidemiologista e neurologista David A.

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Snowdon deu início a um projeto inusitado: acompanhar a vida de centenas de freiras para investigar os fatores envolvidos no envelhecimento e no surgimento de doenças como o Alzheimer.

Quase 40 anos depois, o “Nun Study” — ou “Estudo das Freiras” — se tornou um marco na ciência, revelando aspectos fundamentais sobre as causas e os mecanismos por trás da perda de memória e da deterioração cognitiva.

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O estudo é amplamente reconhecido como um divisor de águas por especialistas da área. E o trabalho ainda está longe de terminar. 

Essa pesquisa permitiu compreender melhor, por exemplo, a importância da chamada reserva cognitiva — e como a educação pode funcionar como um fator protetor contra a demência.

Também colaborou para identificar genes associados ao risco aumentado de Alzheimer e apontou que, muitas vezes, diferentes doenças atuam simultaneamente no comprometimento da memória.

Três freiras lendo num convento em foto de maio de 2001

Imagem: Reprodução/Internet


Com os avanços na digitalização de documentos e o uso da inteligência artificial, os cientistas envolvidos acreditam que o estudo ainda pode trazer novas respostas sobre essa condição neurológica, que já afeta mais de 55 milhões de pessoas em todo o planeta.

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Uma pesquisa singular, com riqueza de informações
Snowdon, hoje aposentado, conseguiu algo raro: convencer um grupo de freiras enclausuradas da congregação das Irmãs Escolares de Nossa Senhora a participar de um estudo científico de longa duração.

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Para isso, ele estabeleceu três condições: que elas realizassem exames médicos e cognitivos anuais; que compartilhassem registros médicos, diários e cartas pessoais; e que concordassem em doar o cérebro para análise após a morte.

Freira fazendo artesanato

Imagem: Reprodução/Internet

Ao todo, 678 freiras aceitaram participar. 
Quando a coleta de dados começou, em 1991, todas tinham mais de 75 anos e viviam em conventos distribuídos por sete cidades americanas. 
Atualmente, todas já faleceram.

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O projeto teve início na Universidade de Minnesota, foi transferido para a Universidade do Kentucky, voltou a Minnesota, passou pela Universidade de Northwestern e hoje está sob a responsabilidade do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Texas, em San Antonio.

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Mas por que acompanhar um grupo tão específico seria tão relevante?
A resposta está na uniformidade: essas mulheres tinham estilos de vida muito semelhantes — não consumiam álcool, seguiam dietas parecidas, possuíam níveis socioeconômicos e de escolaridade similares, além de rotinas físicas e intelectuais comparáveis.

Essa homogeneidade permite reduzir interferências externas e observar de maneira mais clara como fatores como a educação e o estímulo cognitivo ao longo da vida influenciam no surgimento da demência.

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A construção de uma reserva para o cérebro
Entre as principais descobertas do estudo está o conceito de “reserva cognitiva” — uma espécie de “poupança” mental acumulada ao longo da vida por meio de atividades que desafiam o cérebro, como estudar, ler, aprender idiomas ou praticar hobbies intelectuais.

David A. Snowdon

Imagem: Reprodução/Internet

Isso ficou evidente ao se analisar redações autobiográficas que as freiras escreveram entre os 18 e 22 anos, ao ingressarem na ordem religiosa.

Os pesquisadores perceberam que as irmãs que redigiram textos mais elaborados e complexos, com vocabulário variado e ideias desenvolvidas, apresentaram menor risco de desenvolver Alzheimer na velhice.

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Já aquelas cujos textos eram mais simples, com menos riqueza de linguagem e conteúdo, foram mais propensas à demência.

A neurologista Elisa Resende compara esse processo ao efeito dos exercícios físicos sobre os músculos: quanto mais o cérebro é estimulado, mais conexões entre os neurônios são criadas.

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Isso permite que, mesmo com a perda de algumas dessas conexões ao longo da vida, outras ainda possam suprir funções cognitivas como memória e raciocínio.

Dessa forma, pessoas com grande reserva cognitiva podem demorar mais para manifestar os sintomas da doença, mesmo que as alterações cerebrais típicas do Alzheimer já estejam presentes.

Já indivíduos com pouca estimulação ao longo da vida tendem a apresentar os sinais da doença de forma mais precoce.

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Resiliência cerebral e genética
Outra contribuição marcante do Estudo das Freiras foi a identificação de casos em que, mesmo com o acúmulo das proteínas beta-amiloide e Tau — características do Alzheimer —, algumas freiras não apresentavam qualquer comprometimento cognitivo em vida.

Uma das freiras do estudo ao lado de Snowdon

Imagem: Reprodução/Internet


A neuropatologista Margaret Flanagan, atual coordenadora do estudo, destaca esse fenômeno como um exemplo de resiliência cerebral: a capacidade de alguns cérebros resistirem aos efeitos das alterações patológicas.

Os pesquisadores agora buscam entender o que, além da educação, pode explicar essa resistência — seriam fatores genéticos? Ambientais? Hábitos de vida?

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O estudo também foi essencial para entender o papel do gene APOE4, atualmente considerado o principal fator de risco genético para o Alzheimer.

Ter uma cópia desse gene aumenta em até 10 vezes o risco de desenvolver a doença, e duas cópias podem elevar esse risco para 15 vezes.

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Além disso, as autópsias mostraram que muitas freiras apresentavam não só sinais do Alzheimer, mas também de outras formas de demência, como a vascular, a frontotemporal e a demência por corpos de Lewy — um quadro chamado de demência mista, cada vez mais reconhecido entre idosos.

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Mundo das Utilidades


O futuro do Estudo das Freiras
Mesmo com décadas de existência, o estudo está longe de terminar.
A equipe atual trabalha na digitalização de todo o acervo — cartas, exames, relatórios médicos e amostras de tecidos —, com o objetivo de aplicar novas ferramentas, como inteligência artificial, para explorar ainda mais esse rico banco de dados.

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Para especialistas como Sonia Brucki e Elisa Resende, ainda há grandes perguntas em aberto: o que desencadeia o depósito das proteínas no cérebro? 
Como exatamente a reserva cognitiva funciona em nível biológico?

Enquanto as respostas não chegam, o Estudo das Freiras continua trazendo insights valiosos — até mesmo em detalhes curiosos.

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BibiCar

Flanagan lembra que as redações autobiográficas também revelaram algo intrigante: 

as freiras que expressavam mais otimismo ao escrever, com uma visão positiva da vida, apresentaram menor risco de desenvolver demência em comparação com aquelas que adotavam um tom mais pessimista.

“São descobertas que encantam e nos fazem refletir”, conclui a pesquisadora.

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O que é o Alzheimer?

O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa progressiva que afeta o cérebro, comprometendo principalmente a memória, o pensamento e o comportamento.

É a forma mais comum de demência e atinge, especialmente, pessoas com mais de 65 anos — embora possa surgir antes disso, em casos mais raros.

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Em termos simples:
É como se o cérebro começasse, aos poucos, a "desligar conexões" importantes. 
As células nervosas (neurônios) vão morrendo, e as redes que processam informações se deterioram.

Isso causa esquecimentos frequentes, confusão mental, dificuldade para se comunicar, mudanças de humor e, com o tempo, perda de autonomia.

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Irmãos Gonçalves

O que acontece no cérebro de quem tem Alzheimer?
Depósitos anormais de proteínas se acumulam entre os neurônios. 

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As principais são:

  • Beta-amiloide: forma placas entre os neurônios, dificultando a comunicação entre eles.
  • Tau: se acumula dentro dos neurônios, formando emaranhados que atrapalham seu funcionamento.

Isso leva à morte progressiva dos neurônios, especialmente em regiões ligadas à memória (como o hipocampo) e depois se espalha para outras áreas do cérebro.

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Irmãos Gonçalves

Sintomas mais comuns:

  • Esquecimento de fatos recentes
  • Dificuldade para realizar tarefas simples
  • Desorientação no tempo e no espaço
  • Mudanças de humor e comportamento
  • Problemas de linguagem
  • Dificuldade para reconhecer pessoas próximas

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A Palavra Morde no Portal

Tem cura?
Ainda não. Mas existem tratamentos que podem aliviar os sintomas, retardar a progressão da doença e melhorar a qualidade de vida. O diagnóstico precoce é essencial.

Fonte: BBC.
 

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